Odontologia eqüina garante mais saúde para o animal e melhor desempenho nas suas performances
- Revista Sem Fronteiras Marchador
- 16 de out. de 2015
- 4 min de leitura
Origem da prática
Era ano 600. A.C quando os chineses já observavam os dentes incisivos dos eqüinos e por meio deles estimavam qual era a sua idade. A avaliação começou assim que os criadores perceberam o valor comercial destes animais. Mas a prática de odontologia eqüina, efetivamente, tem registros datados por volta de 350 A.C. Aristóteles, em sua História Animalium, já mencionava a ocorrência de enfermidades dentais em cavalos (CIFFONI, 2001). Mas foi no período do Renascimento, no século XVII, que surgiram avanços em técnicas cirúrgicas da "arte veterinária", incluindo as odontológicas. Mais adiante, com a criação da primeira escola de veterinária do mundo, em 1762, em Lyon, França, já haviam procedimentos cirúrgicos de extração oral de dentes com técnicas e instrumentos semelhantes aos atuais. Hoje, avanços tecnológicos e científicos associados à revalorização dos cavalos nas atividades esportivas e de agronegócio, permitiram que esta "arte" veterinária fosse considerada uma "especialidade" médico veterinária.
Entenda a importância da odontologia eqüina
Mas por que a odontologia eqüina é tão importante? Além de garantir o bem estar do animal, previne - o de possíveis cólicas e ajuda na manutenção da performance do cavalo atleta. Até muito recentemente, esta especialidade médico veterinária era negligenciada; problemas dentários eram confundidos com parasitismo e nutrição inadequada, por exemplo. Estatísticas norte americanas apontam que os distúrbios odontológicos em eqüinos são considerados como a terceira doença mais comum na medicina eqüina nos EUA. Já no Brasil, esta prática ainda está em período de maturação em relação à expansão dos profissionais da área, e, sobre a consciência necessária ao criador para observar a saúde do animal e levar ao diagnóstico correto da patologia dentária.
Assim, aspectos relacionados ao manejo e hábitos alimentares, alterações de comportamento, dificuldades de condução, perda de peso e queda de performance devem ser considerados quando há suspeitas de processos dolorosos de origem odontológica. Esta deve ser a hora de solicitar ao veterinário da área um exame odontológico completo no seu animal!

O veterinário Rômulo Baião durante prática odontológica, em Santiago, no Chile.
Mastigação
As variações mais intensas do desgaste dentário ocorrem pelo tempo menor de mastigação do eqüino. Em condições naturais, isto é, quando o animal está em pasto contínuo, a média é de 20h diárias; mastigar pra ele é um ato de prazer e os alimentos são selecionados pelos seus lábios de maneira a facilitar sua mastigação. À medida que o pastoreio é restringido e o período em baias e piquetes aumentados, o animal diminui esta média. A diferença está na maneira como ele se alimenta e conseqüentemente no movimento exercido por ele para realizar a mastigação. Em pasto, predomina-se o movimento de excursão lateral da mandíbula. No entanto, confinados, eles se alimentam mais de concentrados, comem mais rapidamente e geram uma mastigação anormal, com movimentos da mandíbula predominantemente verticais, e usam os incisivos para cortar e agarrar estes alimentos. Os movimentos verticais não são eficientes para triturar as fibras da forragem e provocam um desgaste anormal dos dentes dos eqüinos, formando pontas de esmaltes e outras patologias que lhes causam feridas que geram dor e stress. Então, quando a mastigação não está indo bem, geralmente os dentes incisivos do animal não são usados para o corte e sofrem um menor desgaste, o que pode torná-los muito longos devido à ausência de atrito e corrosão. Conseqüentemente, os dentes pré molares e molares, responsáveis pela mastigação, tem seu contato reduzido, e assim, com menos mastigação, menos digestão o animal fará, o que dificulta o seu ganho de peso. Problemas com indigestão também podem resultar em cólicas e levar o animal ao óbito.
Quais são as patologias mais comuns?
As principais patologias dentárias que podem ser encontradas durante a fase de desenvolvimento do cavalo são:
Prognatismo;
Braquignatismo;
Retenção de dentes decíduos (dente-de-leite)
Algumas alterações dentárias podem ser adquiridas:
Nos incisivos:
Poliodontia;
Oligodontia;
Curvatura Ventral e Dorsal;
Mordida em Diagonal;
Desgastes irregulares dos pré-molares e molares:
Pontas de esmalte;
Ondas;
Ganchos;
Rampas;
Degraus;
Cristas Transversais excessivas.
Nos cavalos que estejam fazendo uso de embocadura, incômodos podem ser causados pela presença do dente - de - lobo (primeiro pré-molar). Outras alterações dentárias:
Diastemas;
Fraturas dentárias;
Cáries;
Doença periodontal;
Fraturas maxilares;
Mandibulares rostrais.
Tratamento
O especialista em odontologia eqüina, médico veterinário, Rômulo Cheloni Baião, conta a Revista Sem Fronteiras sobre o início do tratamento odontológico: "O criador deve ficar atento e avaliar a dentição d@s potrinh@s logo após o seu nascimento, em especial aqueles que não estejam mamando bem", diz o veterinário. Ele conta que na faixa etária dos 2 anos aos 4,5 anos ocorre a troca de 24 dentes-de-leite; que devem ser extraídos caso fiquem retidos, senão podem complicar o apontamento dos dentes permanentes. No caso dos animais jovens e esportivos, os dentes devem ser monitorados periodicamente a cada 6 meses. Para cavalos de passeio, monitorados a cada 1 ano.
Sinais para perceber desenvolvimento de patologias dentárias:
Manifestações clínicas que o animal pode apresentar:
Molhar o alimento antes de comer;
Mastigar balançando a cabeça;
Comer lentamente;
Deixar o alimento cair;
Falta de apetite;
Movimentos bruscos da cabeça com está com a embocadura;
Problemas de atitude na equitação;
Abertura freqüente da boca;
Dor facial;
Cuspir bolos de alimentos (rolo alimentar encontrado próximo ao cocho);
Baixa condição corporal.
Ou problemas alimentares como:
Baixa resposta a vitaminas, vermífugos e alimentos concentrados;
Pouca absorção por trituração deficiente;
Falta de salivação que leva à má digestão e à Cólica, que segundo Thomassian (1990) significa uma das maiores causas de óbito na espécie eqüina.
Performance
O veterinário diz que um tratamento odontológico bem sucedido pode fazer a diferença na performance de um cavalo em competição. "Hoje, com o elevado nível das competições, pequenos detalhes fazem a diferença, e assim o cavalo deve estar em perfeita harmonia com a embocadura e treinador", aponta Rômulo. Para o sucesso do tratamento odontológico é sempre recomendável buscar um profissional especializado no assunto. Assim, o criador garante que seu animal receba os melhores cuidados e não arrisque sua saúde com um profissional não especializado na área.
Fonte: Kreling, 2003.
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