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Entrevista com Fernando Mello Vianna

Uma longa Conversa sobre equitação, esportes equestres e características do Mangalarga Marchador.

Os primórdios da equitação do Mangalarga Marchador remonta as caçadas ao veado, a lida com boi e as longas viagens que inspiraram, as cavalgadas e os concursos de marcha atuais. Paralelamente desenvolveram-se também provas de enduro equestre e as provas de Hipismo Rural. Através destas funções o Marchador foi evoluindo e fixando suas principais características: a rusticidade, a resistência, o temperamento enérgico, vigoroso e ao mesmo tempo dócil, a habilidade nas funções campeiras e a comodidade. Esta última, a mais importante e que o difere de tantas outras raças de equinos. Graças a uma marcha progressiva distribuída em apoios tripedais, laterais e diagonais desenvolveu seu andamento macio, com pouco ou nenhum impacto vertical, totalmente diferente do trote. Assim o Marchador conquistou o Brasil e agora o exterior.

No livro de recordes mundiais, o “ Guiness Book”, ele é reconhecido por ter cruzado o país entre maio de 1991 e julho de 1993 do Oiapoque, no Amapá, ao Chuí, no Rio Grande do Sul; 14 mil KM percorridos. Foram seis animais da Raça e três cavaleiros: Jorge Dias Aguiar, 64 anos, Pedro Luiz Dias Aguiar, 60 anos e José Reis, 65 anos. Este feito eternizou o MM pela sua resistência, docilidade e rusticidade em uma das maiores jogadas de marketing da história da Raça.

É sabida a potência e a resistência do Mangalarga Marchador nos concursos de marcha, visto que o julgamento da Exposição Nacional dura em média 1h30. Mas e as outras provas equestres de cunho Olímpico? O Marchador tem chance?

Fernando Mello Vianna, instrutor de equitação desde 1993, árbitro licenciado da ABCCMM e proprietário do CTE Mello Vianna fundado em 2002, conversa com a Sem fronteiras sobre este tri-pé : Equitação x Esporte x Hobby...

1 – Fernando, a nível técnico, a que devemos a resistência do Mangalarga Marchador?

O MM é descendente dos cavalos portugueses, famosos no mundo inteiro pela habilidade nas batalhas. Foram selecionados a mais de 2000 AC para ter destreza, atitude de atenção, flexibilidade, coragem e resistência.

2 – Além da competição “Caminhos do Marchador” da ABCCMM, dos concursos de marcha, das provas funcionais, na sua opinião, haveria outro esporte que contemple as características do MM?

Muitas pessoas acham os concursos de marcha durante a Nacional muito longos, cerca de 1h40.

Sinceramente acho muito importante selecionar marchadores resistentes. A maioria das cavalgadas duram mais de 4 horas. Na lida o peão pega o cavalo de manhã e solta a noite. Não vejo problema algum, se não fosse os animais mais novos, em fase de crescimento. Este sim fica muito prejudicado. Pelas novas regras da ABCCMM, as primeiras categorias competem a partir dos 3 anos. Portanto, a maioria destes animais se lesionam muito cedo ficando com sua longevidade comprometida. Se tivéssemos provas mais leves até os 5 anos ou se retardássemos o início destes animais, teríamos animais com saúde por muito mais tempo.

No enduro equestre o MM tem chance, mas com certeza, o meio sangue Marchador x Árabe ou Anglo-Marchador teriam muito mais probabilidade de sucesso. O problema é que não temos o livro de registro do meio sangue que poderia levantar o nome do marchador. Em outros esportes, como o Hipismo Clássico, o MM puro é muito habilidoso, porém sua estatura é baixa para provas com mais de 1,20 m.

O Zurquis, “O pequeno notável”, um dos mais famosos cavalo de Hipismo Brasileiro, era filho de égua Mangalarga. Porém ninguém leva em consideração sua linhagem materna.

Outro problema sério que temos de enfrentar é a fragilidade dos nossos animais, consequência das linhagens que usamos atualmente. A qualidade ósseo-tendínea e articular cada vez mais fraca, jarretes mal conformados e a grande incidência de problemas morfo-funcionais como posteriores acurvilhados, quartelas horizontalizadas e aprumos ruins, são muito comuns hoje em dia. Todos estes problemas associados a um “modismo podológico”, incompatível com o trabalho repetitivo do dia a dia no treinamento, tem deixado os marchadores com prazo de validade curta.

Outros esportes...

No polo, o marchador ocupa uma posição inferior em relação ao cavalo de polo argentino, raça formada do cruzamento do crioulo argentino ou chileno com o PSI. No Adestramento Clássico e no CCE olímpico, a marcha impossibilita vários exercícios obrigatórios, mas talvez na Equitação de Trabalho possamos ter sucesso.

Esportes para habilidade de cada raça...

Na minha opinião, cada raça deve desenvolver esportes compatíveis com a habilidade natural dos seus cavalos. Em uma raça com mais de 14.000 sócios, podemos desenvolver nossas próprias provas, sem a necessidade de copiar as provas de outras raças.

3 – A partir de que idade é recomendado que uma criança possa montar sozinha, sem a ajuda de um responsável?

A partir dos 8 anos a criança já tem mais destreza e coordenação. Se acontecer pequenos acidentes ela vai ter maior capacidade de recuperação psicológica. Nesta idade a equitação ajuda a formar a personalidade, exigindo firmeza na hora de exigir do animal e saber ceder na hora que o animal faz o exercício correto; características estas que vão ajudar o indivíduo nas decisões e na atitude que terão que tomar ao longo de sua vida. Além deste lado diferenciado no que se refere a atividade equestre, a relação com o animal, o ambiente das pequenas cavalgadas, os pequenos desafios que o cavalo proporciona, tira o foco da criança para o excesso dos joguinhos eletrônicos e do cotidiano das cidades. Há profissionais que defendem a tese que a partir dos 10 anos, seria a idade ideal para o começo das atividades equestres. A competição equestre de alta performance é um esporte muito longevo, portanto não exige a necessidade do ingresso muito cedo no esporte. Exemplo de sucesso de pessoas que começaram tarde são muito comuns como Rodrigo Pessoa e Jorge Ferreira da Rocha, ambos cavaleiros olímpicos.

4 – Como você descreveria a posição correta de um cavaleiro?

Neste caso temos que sempre correlacionar a postura e o assento do cavaleiro. Ambos precisam evoluir juntos, pois um depende do outro. Para avaliar e melhorar a postura de um cavaleiro temos que começar de baixo para cima e nesta ordem:

- A posição dos pés no estribo e a descida das pernas. Esta depende do ajuste correto do comprimento dos estribos que depende da modalidade equestre que a pessoa vai praticar. De um modo geral para esportes mais campeiros como é característico no MM, a estribagem é mais longa.

No entanto, esta regulagem deve proporcionar uma descida de perna mais à vontade e mais relaxada, mas que permita o calcanhar trabalhar mais baixo que a ponta dos pés e ligeiramente para a fora. Pequena, mais muito importante, a curvatura das pernas na altura do joelho é imprescindível para a manutenção do equilíbrio durante os movimentos. A panturrilha em contato com o costado do cavalo também é essencial para o uso correto das ajudas . O calcanhar deve estar alinhado com o ombro do cavaleiro. Nem para frente e nem para trás.

Muito comum hoje no MM, cavaleiros profissionais com perna para frente e corpo para trás. Virou moda. Péssimo costume, pois aumenta a sobre carga na coluna dos animais atrás do centro de gravidade, causando muita dor e outros problemas mais graves. Principalmente, no caso do MM que tem um tempo de treinamento e montaria muito longo.Este defeito grave de postura do cavaleiro, significa também, problemas de coluna inevitáveis no futuro. Muitas vezes também montam com as pernas abertas, sem contato com o animal.

- A cintura deve ser flexível e a coluna reta mas sem perder a naturalidade do cavaleiro campeiro.

- Ombros abertos e também flexíveis.

- Mãos baixas, de dois a três dedos acima da crineira. Não temos uma pegada de rédeas obrigatória, mas é importante que estas passem por entre os dedos, correspondendo à parte mais sensível das mãos que por sua vez estarão em contato com a parte mais sensível do cavalo, a boca.

A maioria dos cavaleiros profissionais do MM tem uma pegada de rédeas muito parecida com o cavaleiro campeiro português e espanhol.

- Olhar altivo e sempre para frente, como se estivesse procurando a linha do horizonte ou novos obstáculos.

Quanto ao assento, a melhor definição está resumida em quatro palavras e frases:

Fixação - Flexibilidade - Estar à vontade - Independência de Ajudas

Primeiro temos que aprimorar a fixação do cavaleiro para conferir o equilíbrio necessário, a segurança e confiança na montaria. Depois desenvolvemos a flexibilidade para propiciar a conjunção e a sincronia do conjunto cavalo- cavaleiro. Em seguida o cavaleiro fica à vontade e ao final consegue aplicar as ajudas com precisão e no “ time ” correto.

5 - Quais os erros mais comuns que você observa cometidos pelos treinadores com seus animais antes e durante a Nacional?

- Aumentar a carda de trabalho no mês que antecede a Nacional. Devemos fazer exatamente o contrário, aliar a intensidade do trabalho à medida que nos aproximamos da data da competição.

- Ferrageamento em cima da hora. O mesmo deverá ser feito, no mínimo, 15 dias antes da competição, para que haja adaptação do animal à ferradura.

- O erro mais grave é leva um animal de três anos para competir uma prova com duração acima de 1h30. Mas de quem é a culpa. De quem faz a regra, da ABCCMM, infelizmente.

Podemos considerar exemplo de sucesso a história da égua Nina de San Genaro, que diferente da maioria dos animais, foi treinada sem pressa e participou da sua primeira Nacional após os 4 anos de idade. Foi campeã das campeãs Nacional de marcha em 2016.

- Treinar os animais com o percurso definido da prova funcional. Os treinadores montam a prova e ficam repassando os animais. O cavalo deve saber todos os exercícios exigidos em uma prova, porém nunca a sequência. Do contrário ele antecipa os comandos e comete erros infantis.

- Algumas empresas de suplementos oferecem um coquetel de produtos afim de melhorar a performance dos animais nos meses que antecedem a Nacional. O índice de laminite (patologia muito grave que atinge o sistema locomotor dos equinos, os cascos) que estou observando, nas minhas consultorias, neste período, estão cada vez maiores. Na minha opinião, teríamos que fazer uma adaptação mais lenta e gradativa.

6 - O que você acha do limite de altura estabelecido pela ABCCMM em relação à conquista de novos mercados , em outros países?

Na minha opinião, isto limita muito o mercado. A Alemanha, por exemplo, tem uma média de estatura bem maior que a brasileira, é considerada uma potência nos esportes equestres e possui muitos criadores de MM já consolidados, entretanto existe a preferência por animais maiores. A medida que se limita a altura pode-se limitar o mercado. Oque deve limitar a altura é a própria função do cavalo. Qual o problema de termos um marchador top com 1,65 m de altura?

7 - Voltando aos Esportes Olímpicos, o MM tem chance?

Como disse anteriormente, na maioria dos esportes olímpicos na atualidade, com exceção do Hipismo, o trote é andamento indispensável e a marcha impossibilita a entrada dos animais nestas modalidades. No salto, o porte do MM é pequeno, limitando-o para provas de 1,20m. Se tivéssemos o livro de registro meio sangue, poderíamos sonhar um dia...

8 - Qual a dica mais importante para uma pessoa que está iniciando na equitação?

Procurar fazer um curso de adestramento com instrutores capacitados, para aprender as normas de segurança e os comandos básicos de equitação. Depois, procurar um cavalo bom e experiente para praticar o aprendizado, para que o cavaleiro adquira confiança. Nesta fase o cavalo é o melhor professor.

9 - Na sua opinião quais as características morfo - funcionais ideais par um cavalo de cômodo excepcional?

Comodidade é o item mais subjetivo do julgamento. Para ser cômodo o animal deve ser macio, bem adestrado, estável de tronco, equilibrado, temperamento avante e calmo. Um animal que afunda a frente ou pesa na boca se torna incômodo. Se tropeça o tempo todo ou muda de andamento a todo instante, não tem equilíbrio. Se é lerdo e tenho que empurrar o tempo todo causa também muito desconforto ao cavaleiro. Se não tem estabilidade corpórea e me balança, não gosta de montar, ou seja, este item é muito amplo. Para isto, do ponto de vista morfo-funcional, os animais precisam ser bem angulados, bons aprumos, bom direcionamento de pescoço e boa integridade física, sem o qual não temos boa desenvoltura nos itens acima.

Comodidade x Maciez

Sem dúvida, a maciez é o item mais importante da comodidade. Para tal, o Diagrama de marcha deve estar em primeiro lugar, seguido de perto pela capacidade de absorção de impacto no solo que deriva, por sua vez, de boas angulações. Finalmente vem a flexibilidade, na equitação, direcionada para deixar o marchador cada vez mais macio.

Exemplo: exercícios direcionados para flexibilização da musculatura das espáduas, aumentam muito a capacidade de absorção de impacto do trem anterior.

Exemplos de cavalos com comodidade nível Fernando Mello Vianna

Pena que não posso falar das fêmeas. Em relação aos Machos, tenho dois muito presentes na minha memória e que são muito conhecidos nacionalmente:

Agadês do Quociente e Baluque de Malta.

Mini Bio: Fernando Mello Vianna, Engenheiro Agrônomo, formado pela Universidade Federal de Viçosa, Instrutor de Equitação formado pela Escola de Equitação do Exército Brasileiro, Árbitro licenciado da ABCCMM e um dos instrutores mais antigos do MM, em atividade e ministrando cursos de equitação desde 1993. Julgou seis Nacionais da ABCCMM e 4 pela ABCCM durante sua trajetória. Hoje se dedica ao CTE Mello Vianna fundado em 2002, sendo o primeiro CTE de marchador no Brasil.

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