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Bela Cruz: de Revista à Xavantina

Este texto começa de uma resenha do livro “Bela Cruz: rastros de uma memória (1810 - 2010)”, escrito por Francisco Darci Meirelles Junqueira, o último herdeiro da Fazenda Bela Cruz - em Cruzília, Minas Gerais. Darci narrou, de forma franca, a história das gentes e dos animais daquele lugar, deixando muitas vezes claro o esquecimento pelo qual a linhagem estaria passando na época (2010). Em 2017, vimos a Bela Cruz ser representada ao subir a rampa da Gameleira: Vai Vem Bela Cruz, Reservado Campeão Nacional Cavalo Sênior da categoria e Xavantina Bela Cruz, a atual terceira melhor égua do Brasil. Para quem estava na beirada da pista durante o Grande Campeonato no sábado da Nacional 2017, ver uma legítima sul mineira, lá da raiz da raiz do Berço, disputar o Grande da Raça, significou uma “baita emoção”. Quem cria cavalos há muito tempo já provou como é difícil manter uma linhagem em pé; entenda-se àquela que resiste ao tempo contra todas as intempéries previstas na trajetória.

Darci não estava aqui para vibrar com os resultados do fatídico ano de 2017 para a linhagem Bela Cruz. Mas o curso da história segue com os frutos do que foi semeado. Em seu livro, há esta passagem: “é importante pôr no papel o que se vive, pois, como se diz, o que a memória ama fica eterno”. Nesta matéria, selamos um compromisso com a história do Mangalarga Marchador, a fim de eternizar uma linha de tempo para arquivo da Bela Cruz - cenário de uma criação próspera e também de uns dos mais sangrentos motins de escravos do Brasil. Foi a mando de um inimigo político do influente Gabriel Francisco de Andrade Junqueira - o Barão de Alfenas, em 1833, que ocorreu o “Levante da Bela Cruz”. Este episódio culminou com a morte de nove integrantes da família Junqueira. O Barão se salvou, pois se encontrava na Corte no momento da rebelião.

Plantel R

Na metade do século XX, Capitão Prudente dos Reis Meirelles inicia o criatório de Mangalarga Marchador da Fazenda Bela Cruz. A seleção de animais seguia a tônica da funcionalidade para a marcha e caçadas de veados campeiros da região montanhosa do sul de Minas. O plantel BC sempre foi marcado por um pequeno mas seleto número de matrizes e uma alta rotatividade de reprodutores. Após Capitão Prudente, herdaram a preferência e o gosto pela criação, Argentino dos Reis Junqueira, neto de Capitão Prudente, e por último, Francisco Darci; filho de Argentino e médico veterinário formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); casou-se com Else Norremose, foi um dos responsáveis pelos registros de animais do Sul de Minas na ABCCMM e ao final, quando a vida lhe foi um pouco cruel, viu seu prazer de montar comprometido por uma enfermidade que lhe custou a amputação da duas pernas. Darci iniciou-se, então, da sua sala, com uma folha em branco e uma caneta, a escrever e documentar suas memórias. Deixando viva, a história da complexa Bela Cruz.

Linha do Tempo:

Animais que fizeram história no plantel BC

Antes de 1950, o criatório era basicamente composto de filhas de Clemenceau I, Mozart II e Brasil antigo. De 1949 em diante:

Estação de monta de Tabatinga Predileto na Bela Cruz: (ler este episódio na 3ª edição da Sem Fronteiras);

Alfazema (Predileto x Simpatia), Aimará (Predileto x Farofinha); a reconhecida pela “mais Bela Cruz de todas as matrizes”, Atalaia (Predileto x Espadinha).

Revista Bela Cruz (1949) barriga de ouro da tropa BC

Gen: Diamante JB x Castanha Bela Cruz

Revista gerou os primeiros animais registrados da tropa BC, entre eles, Emblema, Farrapo e Guaxo BC.

3 Grandes Campeões Nacionais da Raça são nascidos na Bela Cruz:

Irapuru Bela Cruz (livro de elite MM8); cavalo de caçada de Sr. Argentino. Serviu por muitos anos ao criatório ‘Santa Terezinha’ de Alexandre Rocha de Miranda e Olinto Andrade. Seus principais descendentes foram: Violineiro da Santa Terezinha (x Abaíba Danaé), Uyara da Santa Terezinha (x Abaíba Batuíra), Guincho da Santa Terezinha (x Abaíba Batuíra), Belaíba da Santa Terezinha (x Abaíba Batuíra), Batuy da Santa Terezinha (x Abaíba Batuíra) e o excepcional Malibu da Santa Terezinha ( x Azarola da Santa Terezinha). Irapuru Bela Cruz sagrou-se Grande Campeão Nacional da Raça e Campeão dos Campeões em Goiânia (GO)– 1979.

Farrapo Bela Cruz, deixou produção na Fazenda Cavalo Branco em Esmeraldas (MG), na propriedade de Hugo Vero Mendes de Carvalho. Alguns de seus principais frutos foram: Líder Bela Cruz ( x Esponja) ,Marron Glacê Bela Cruz ( x Escala), Nacional Bela Cruz ( x Aimará), Farrapo HO ( x Odalisca dos Carvalhos), Himalaia HO ( x Herdade Arpa). Farrapo Bela Cruz levantou o Grande Campeonato Nacional de Raça e de Marcha em 1982, no Parque da Gameleira em Belo Horizonte (MG).

Farrapo Bela Cruz

Líder Bela Cruz, que atualmente reproduz suas qualidades nas Fazendas Reunidas Herbert Rodemburg e Cia Ltda. – Bahia, gerando destaques como: Homero HR ( x Abaíba Dalila), Líder HR ( x Mar Caipira), Hiapuã HR ( x Uvaia Tabatinga), Lança HR (x Guerreira HR) e Licor HR ( x Flôr HR). Seguindo os passos de seu pai, Farrapo, Líder atingiu o Grande Campeonato Nacional da Raça em Belo Horizonte 1983.

O cavalo dos sonhos:

Emblema Bela Cruz

primeiro garanhão BC a ser reconhecido pela ABCCMM, marcado com o brasão da ferradura R. Montaria preferida de Darci, animal de lida e muito resistente. Deu bons produtos como Kodak e Kalifa.

Madrigal Bela Cruz: foi o garanhão mais usado da tropa; carregando sangue de Arubé BC, Farrapo BC e Tabatinga Predileto.

“O ‘cavalo do momento’. Quando muito se fala em andamento, é fundada a Escola de Árbitros e o assunto gira em torno do andamento do cavalo marchador, e aí surge Madrigal Bela Cruz. Cavalo pequeno, como os antigos ‘Mangalarga’, veio reforçar o andamento da Bela Cruz e mostrar para o futuro do criatório marchador que as características do nosso cavalo hão de prevalecer”.

Ricardo l. Casiuch

Vai Vem Bela Cruz

(Quociente Elfar x Miçanga Bela Cruz) em fase plena carregando o sangue do tão querido Madrigal.

Vai e Vem Bela Cruz

Xavantina Bela Cruz

(Rolimã Bela Cruz x Pantera Bela Cruz)

Tordilha com o característico conjunto de frente expressivo de uma legítima Bela Cruz. Xavantina brilhou na Nacional de 2017 apresentada por Ricardinho e exposta pelo Haras Serra Bela.

Xavantina Bela Cruz

*Nota da autora: A gleba Bela Cruz hoje é propriedade do empresário, Nakano, de São Paulo. A criação original se encontra na Fazenda Xavier

Reflexão de Darci acerca da tradição de uma família e de sua relação com a sociedade:

“Partindo do patriarca João Francisco Junqueira até os nossos dias, percebemos como nossos ancestrais nos deixaram não apenas muitas histórias para contar, mas, muito além disso, nos ensinaram a valorizar a união dos parentes para, quem sabe dessa forma, aprimorar o relacionamento entre vizinhos”.

 
 
 

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