Dançarina da Gamboa: histórico, genealogia e influência no marchador atual
- Gustavo Sessa Fialho (Bíblia)
- 19 de ago. de 2016
- 5 min de leitura
Atualizado: 6 de mar. de 2023
O compasso do som da marcha clássica revela animais do porte de Argos das Minas Gerais, Quebranto Bela Cruz, Queluz do Palmital, Faceiro Bavária, Havana das Minas Gerais e Belo do palmital.
Além da semelhança pelo gesto de marcha propriamente dito, apresentam outro ponto de importância em comum, todos possuem em sua constituição genética genes advindos da inquestionável “DANÇARINA DA GAMBOA”; Livro de Elite - MM7, registro no 369, v.2, pág. 169.
O objetivo deste artigo será elucidar o histórico, genealogia e influência desta importante égua em alguns marchadores da atualidade.
HISTÓRICO
Os fatos narrados têm como cenário principal o Estado do Espírito Santo, que recebera a primeira introdução de equinos da raça Mangalarga Marchador na década de 50, pelas mãos do saudoso Manoel Luiz da Silva - sufixo Valão.
Na época, seus animais eram embarcados nos vagões da maria-fumaça que, pelas linhas férreas da antiga Leopoldina, os conduzia do Sul de Minas Gerais para a cidade de Cachoeira de Itapemirim.
Manoel, notável personalidade do Mangalarga Marchador, teve como grandes amigos Francisco Jorge Neto (Chico) - sufixo Palmital, Milton Paiva Gonçalves - sufixo Gamboa, e Jouber’t Jorge Jaccoud – sufixo 3J. Onde juntos, fizeram incontáveis viagens a Cruzília, São Vicente, Aiuruoca e Minduri, sempre recepcionados pelo Dileto, Ivan Maciel, visitando criadores, conhecendo melhor a raça, adquirindo matrizes e reprodutores.
Pelos idos de 1987, Chico e seu sobrinho Flávio Cheim Jorge resolveram visitar Milton Gamboa na Fazenda Cruzeiro do Sul, localizada no município de Mimoso do Sul. Ao comentarem com Manoel Luiz a intenção da visita, ouviram a seguinte frase: “o melhor animal nascido na tropa Gamboa é uma potra castanha, com pelos brancos no encavador do rabo, filha do Catuni Gracioso com a Qzuada”.
Valendo-se da importante indicação, Chico e Flávio compraram a Dançarina da Gamboa que se tornou a principal matriz do Haras Palmital, situado na Fazenda Monte Cristo, no município de Alegre.
A partir do início da década de 90, Dançarina foi premiada durante anos consecutivos em todos os concursos de marcha realizados no Estado do Espírito Santo (Cachoeiro de Itapemirim, Itapemirim e Vitória) ganhando também em Macaé e Santo Antônio de Pádua, Estado do Rio de janeiro.
Nascida e criada em terras capixabas, mais tarde e com o empenho de Pedro Gabriel Balbi De Queiroz Jr (Pedrinho), Dançaria passaria, sempre ocupando lugar de destaque, pelos criatórios de Ubiraci Palestino do Ocidente - Sufixo Meaípe, Victor Penna Costa - Sufixo Bavária, Nelson Luiz Feital - Sufixo Minas Gerais e Georgina Penna Costa - Sufixo Serra Bela.
GENEALOGIA
Nascida em 1985, Dançarina da Gamboa teve como progenitores, Catuni Gracioso na linha alta e Qzuada da Gamboa na baixa. Gracioso de pelagem tordilha, expressivo, muito profundo e de membros fortes era filho do Patrimônio de Santa Lúcia (Sururu) na Catuni Brigite; descendendo assim, de entre outros, Herdade Ouro Preto, Baluarte do Engenho de Serra, Panchito JB, Londres JB, Favacho Pedra Estanho e Favacho Fla Flu.
Por sua vez, Qzuada da pelagem rosilha, era o melhor animal da tropa Gamboa, marchadeira clássica, de temperamento excepcional e quando montada mostrava um gesto de marcha primoroso com muito equilíbrio, desenvoltura, elasticidade, coordenação e força. Por tanto, seu nome fazia referência ao barulho da batida de seus cascos no chão ao marchar. Genealogicamente era filha do Faceiro JB na Furiosa da Gamboa.
Em 1979, antes do nascimento da Dançarina, Manoel Luiz ao ouvir falar em Faceiro JB, escreveu para Urbano Junqueira perguntando sobre a genealogia do tordilho. A resposta veio de pronto: “Para Manoel Luiz da Silva. Conforme prometi, estou enviando-lhe o pedigree do Faceiro J.B. Abraços Urbano. Faceiro JB, nascido 20/12/70, Vendi ao Seu Vidigal. Filho de Beijo (Marimbo x Vamp) em Xarada (Sincero x Onça)... Obs: Xarada é a melhor égua de produção que tenho”.

Carta de Urbano Junqueira de Andrade (JB) enviada a Manoel Luiz da Silva.
Buscando outros pedigrees, percebe-se que Urbano sabia o que falava sobre a Xarada, que por Luar produziu a Denúncia, mãe do Xingu JB; acasalada com beijo velho, trouxe além de Faceiro, duas irmãs próprias Isca e Onça, mães respectivamente de Omelete e Beijo novo e; finalmente, por Pavão M, produziu Sonho JB.
DESCENDÊNCIA NO MARCHADOR ATUAL
Cita-se como exemplo, alguns animais atualmente importantes no Mangalarga Marchador que descendem da Dançaria da Gamboa:
“Argos das Minas Gerais”, por Damasco da Ogar e Dançarina da Gamboa, possui 42 premiações em eventos oficiais do marchador, dentre elas: – Campeão Nacional Cavalo, BH/2006; Campeão Nacional Cavalo Júnior, BH/2005 e; Res. Campeão Nacional Cavalo Júnior de Marcha – BH/2005. Destacam-se em sua produção: King, Leme, Havana, Garrucha, Giz e Jade das Minas Gerais;
“Ética da Candiúba”, por Manganês AJ e Dançarina da Gamba, possui 47 premiações em eventos oficiais do marchador, dentre elas: - 1º Prêmio Nacional Égua Adulta de Marcha, BH/2000. Destacam-se em sua produção: Dançarina das Minas Gerais, Queluz, Raio, Utopia, Valete e Vitória do Palmital;
“Faceiro Bavária”, por Damasco da Ogar e Dançarina da Gamba, possui 47 premiações em eventos oficiais do marchador, dentre elas: - Campeão nacional Cavalo Adulto de Marcha BH/2008;
“Queluz do Palmital”, por damasco da Ogar e Ética da Candiúba, neta materna da Dançarina, possui 54 premiações em eventos oficiais do marchador, dentre elas: - Res. Campeã Nacional Égua Júnior de Marcha BH/2005. Destacam-se em sua produção: Gameleira das Minas Gerais, Brasa, Bela Aurora e Ético do Palmital;
“Belo do Palmital”, por Valete do Palmital e Belíssima MAVI, bisneto paterno da Dançarina da Gamboa, possui 29 premiações em eventos oficiais do marchador, dentre elas: - 1º Prêmio Nacional de Marcha, BH/2015;
“King das Minas Gerais”, por Argos das Minas Gerais e Gabola das Minas Gerais, neto paterno da Dançarina, dentre suas premiações destaca-se: - Grande Campeão Nacional Jovem da Raça, BH/2013;
“Fiança da Candiúba”, por Manganês AJ e Dançarina da Gamba, possui 34 premiações em eventos oficiais do marchador. Destacam-se em sua produção: Essência Bavária, Brisa do Rancho Treze, Único, Uruguaiana e Cacheado do Palmital;
“Quebranto Bela Cruz”, por Argos das Minas Gerais e Heureca Bela Cruz, possui 10 premiações em eventos oficiais do marchador e atualmente serve aos plantéis da Linhagem Bela Cruz e do Haras Barão de Alfenas.
Sendo Dançarina bisneta da melhor égua de produção da JB na opinião de Urbano Junqueira, não poderia ter sido diferente. Vitoriosa como indivíduo, e como matriz, produtora de campeões que em sua maioria também possuem “pelos brancos no encavador do rabo”, rabicão.
Por fim, expressasse aqui toda homenagem a esta brilhante égua que rompeu fronteiras e se projetou como uma das mais importantes fêmeas da Raça Mangalarga Marchador. Em março do corrente ano, Dançarina descansava no Haras Palmital e desapareceu aos 31 anos de idade no mesmo piquete onde fora criada.
Autor>>
Engenheiro Agrônomo (UFES) e Doutor S.C Fitotecnia (UFV). Professor Adj. do Departamento de Estatística da Universidade de Pelotas (RS).
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