Estudos sobre os animais mais influentes do século XX
- Resenha do livro de Ricardo L.Casiuch
- 24 de set. de 2017
- 4 min de leitura
Um livro para consulta, admiração e orientação seletiva do cavalo Mangalarga Marchador. Ricardo L. Casiuch apresenta o resultado de um trabalho realizado durante 3 anos. O autor traz à raça uma tese sobre a origem do cavalo Real e realça os 30 garanhões mais influentes do século XX a partir de dados coletados sob a formação de uma progênie de altíssima qualidade diante do exigente padrão racial estabelecido.
Os estudos foram feitos a partir da observação dos animais mais influentes do século XXI e descrição de seus pedigrees. Desta maneira, foi possível listar quais são os cavalos que mais aparecem nestas genealogias; aqueles que foram mais usados ao longo do século XX e século XXI, até então.“Ser influente é estar presente na genealogia de potros que nascem hoje”, enfatiza Casiuch. No final do livro, são apresentados 15 cavalos do século XXI já fora da zona de influência.
Linhagens Pilares
As linhagens base de formação para as raças Mangalarga e Mangalarga Marchador foram delineadas pela família Junqueira e seus vizinhos no início do século XIX. A divisão está calcada em apenas seis genearcas, a saber: Fortuna, Joia da Chamusca, Sublime, Gregório, Telegrama e Rosilho (ou Abismo). A divisão destas linhagens, provavelmente, foi feita a partir de diferentes reprodutores, que pertenceram à Coudelaria Real de Cachoeira do Campo, a primeira fazenda real de cavalos do Brasil, localizada em Ouro Preto, Minas Gerais. Ali, coexistiram animais das raças Alter, Puro - Sangue Inglês, Francês, Alemão, Árabe e do Cabo da Boa Esperança (África do Sul). Mesmo com características individuais, estes chefes de linhagem na sua totalidade representavam um conjunto de qualidades inerentes à formação de uma raça nacional.
Abismo (ou Rosilho)
O último dos grandes chefes primitivos do Mangalarga e Mangalarga Marchador foi Rosilho (ou Abismo), de propriedade de Antonio Gabriel Junqueira, filho do Barão de Alfenas e proprietário da Fazenda Narciso, em Cruzília, Minas Gerais. Pelos seus descendentes saíram a maioria dos representantes da raça Mangalarga Marchador, divididos em dois troncos principais: Cana Verde e o rosilho Trovador. Desta raiz, veio o primeiro animal registrado na ABCCMM, Angahy Caxias II, de propriedade de Christiano dos Reis Meirelles - Fazenda Angahy, Cruzília - MG.
Outro importante animal deste tronco foi Bellini JB, nascido em 1901, por The Money x Dourada, criação de Urbano Xavier de Andrade na Fazenda Campo Lindo, também em Cruzília. De pelagem castanha zaina, foi árvore frondosa em que boa parte da raça Mangalarga Marchador se apoiou para seu crescimento.
O surgimento das linhagens
Para entender o surgimento das linhagens é preciso remontar à ocupação das terras - sul mineiras no início do século XVII pelas famílias de Manoel Gonçalves Correia (o Burgão) e de Manoel Gonçalves da Fonseca. Eles eram provenientes da Ilha de Fayal, no arquipélago de Açores, em Portugal e se instalaram na freguesia de Nossa Senhora do Pilar de São João Del Rey, perto do Rio das Mortes Pequeno. Destas famílias descendem as famosas “Ilhoas”, das quais provém algumas das mais tradicionais famílias de Minas, como os Resende, os Junqueira, os Andrade, os Carvalho, os Meirelles, os Reis e os Ferreira, para citar apenas alguns.
A região do Rio das Mortes Pequeno se configurava como perfeita para adaptação destas famílias e também para criação de animais que se destacavam, principalmente, pela rusticidade, produtividade, docilidade e perfeita adaptação à finalidade para os quais eram criados. Cavalos e cães de caça ao veado campeiro - atividade comum praticada por essas famílias - foram sendo criados e desenvolvidos a partir das necessidades distintas de seus criadores. O cachorro Fox Hound ou “americano”, bons cães farejadores, foram trazidos para região de Carrancas por um engenheiro americano que trabalhava na construção da estrada real, e introduzido à cena agropecuária local.
As linhagens no Mangalarga Marchador
Início das linhagens na criação do cavalo Mangalarga Marchador advém dos descendentes de Helena Maria do Espírito Santo e João Francisco, base da família Junqueira. Deste casamento, nasceram vários filhos, dos quais sete chegaram à vida adulta. Todos fazendeiros,. Todos eram aficionados das caçadas ao veado. Todos criavam cavalos para a lida do dia a dia e para seu lazer predileto. Então, alguns grupos se destacaram na arte de criar cavalos. São as linhagens base.
Posteriormente, outros fazendeiros desenvolveram criatórios, dentro do mesmo espírito dos precursores, formando novas linhagens. São as linhagens de tradição.
Alguns, com o passar dos anos, deixaram de criar cavalos. No entanto, a influência de seus animais perdura até hoje no Mangalarga Marchador. São as linhagens extintas.
Linhagens base
Favacho
Campo Alegre
Traituba
Narciso
Campo Lindo
Angahy
Linhagens de tradição
Abaíba
Ara
Bela Cruz
Catuni
F.R
Herdade
Itamotinga
Passa Tempo
Porto
Tabatinga
Caxambu
Água Limpa
Engenho de Serra
Linhagens extintas
Leme
Juca Carneiro
Criminosos
Silvestre Goiabal
Os mais influentes genearcas do século XX
Sob a raiz de Abismo/Rosilho derivaram os dois principais caules formadores da imensa árvore Mangalarga Marchador - o de Angahy Caxias I e o de Bellini JB. E por este viés, foi possível observar através de progênie, méritos e qualificações quais seriam os reprodutores de influência hoje no Mangalarga Marchador. Veja a listagem a seguir:
Raízes
Angahy Caxias I (1898)
Bellini JN (1901)
Angahy Caxias II (1906)
Apollo “53” (1911)
Rio Verde (1926)
Botafogo “53” (1928)
Predileto Velho da Tabatinga (1932)
Baluarte do Engenho de Serra (1935)
Capitel SP (1935)
Sargento JB (1936)
Troncos
11. Sete Caxias (1939)
12. Abaíba Eldorado (1940)
13. Traituba Sátyro (1943)
14. Herdade Ouro Preto (1943)
15. Abaíba Naipe (1948)
16. Trevo da Gironda (1954)
17. Tabatinga Predileto (1956)
18. Herdade Cadillac (1958)
19. Sincero JB (1958)
20. Zinabre do Passa Tempo (1960)
Ramos
21. Providência Itu (1961)
22. Abaíba Merengo (1964)
23. Beijo Velho JB (1966)
24. Tabatinga Cossaco (1966)
25. Herdade Jupiá (1968)
26. Farrapo Bela Cruz (1972)
27. Herdade Capricho (1974)
28. Irapuru Bela Cruz (1975)
29. Abaíba Gim (1979)
30. Malibu de Santa Terezinha (1982)
O livro termina com os quinze reprodutores do ranking atual 2013/2014 da ABCCMM e lista seus ascendentes influentes e suas linhagens dominantes. As costelas de Abismo é uma verdadeira fonte de conhecimento para todos aqueles que estudam o Mangalarga Marchador por gosto e para aprimorar sua seleção. Além do incrível trabalho de pesquisa, compilação de dados, genealogias e árvores inteiras transcritas, o livro é ilustrado por fotografias deslumbrantes cedidas por um dos investidores da obra: Marcelo Baptista de Oliveira, do Agro Maripá. Textos e arquivos históricos que documentam a história da raça e consequentemente do Brasil também são diferenciais da obra. Realmente, um trabalho que veio para agregar e servir de guia a todos os apaixonados pela cultura e história do cavalo nacional.
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