Árbitro Paulo César Junqueira da Fazenda dos Lobos: a biografia
- Mini biografia de Paulo César Junqueira
- 24 de set. de 2017
- 5 min de leitura
Os álbuns de família da Fazenda dos Lobos guardam a memória de um profundo conhecedor de cavalos Mangalarga Marchador que ali viveu. Das fotografias em preto e branco, ele aparece na Fazenda e em Caxambu com amigos e primos. Em sépia, olha para a câmera sentado no chão sorrindo, rodeado de cachorros da raça Fox Hound. Quem é ele? Junqueira rústico e simples, Paulo César Junqueira de Andrade, carinhosamente chamado de Ti Paulo. O primeiro amor da Bil, o melhor amigo do Julinho, e a saudade do Neto.
A vida renascia com propósito todos os dias para ele, se lhe fosse possível montar em um cavalo que parava e estacava. A cultivar amizades muitas e sinceras, a caçar veado campeiro[if !supportFootnotes][1][endif] e a viver a boemia. Sempre com uma boa resposta na ponta da língua, Paulo César é lembrado em meio às gargalhadas e às boas histórias que seus amigos têm para contar. O reitor da marcha, assim como é chamado, era franco e autêntico.
Silvio Julio Junqueira Pereira é um dos grandes guardiões das histórias do reitor. Revive cada uma sempre com o mesmo entusiasmo. Amizade sincera, toada pelo cavalo e pelo afeto. A relação sempre foi estreita e um dos grandes frutos advindos dela em prol da Raça foi a idealização do Clube do Cavalo de Cruzília, em 1990, juntamente com o irmão de Paulo César, Aníbal de Andrade Junqueira e os amigos, José Mário Pinto Meirelles e Domingos Lollobrigida de Souza Junior.
Paulo César teve uma trajetória longa e marcante como árbitro da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM). Era conhecido pelo seu perfil democrático e justo. Tinha o dom de falar a verdade sem ferir ninguém. Uma vez seu primo Rubens Junqueira (o Rubinho do Favacho) iria levar um cavalo em certa exposição e perguntou ao Paulo o que ele achava, se ele deveria levar o cavalo. Recebeu uma boa resposta: “Se não tiver o melhor, ele ganha”.
O conhecimento de Paulo César foi propulsor para definir um padrão de marcha e morfologia para o Marchador. “Como conhecedor de cavalos, não tinha outro como ele”, relembra seu amigo Rogério Junqueira Meirelles.
Seu pai, José Bento de Andrade Junqueira, foi um dos grandes alquimistas do Mangalarga Marchador, levando a tropa da Fazenda dos Lobos a uma contribuição imensurável para a Raça. Mas como medida protecionista para resguardar o caráter ético do filho juiz que poderia, muitas vezes, vir a julgar um animal advindo dos Lobos, José Bento passou a registrar seus cavalos na Associação Brasileira dos Criadores da Raça Mangalarga (ABCRM). Bentinho teve várias conquistas importantes no Parque da Água Branca. Zorro Lobos[if !supportFootnotes][2][endif] foi um dos garanhões que fizeram história pelas bandas paulistanas.
O olhar clínico de Paulo César para definir um bom cavalo era motivo de admiração. Certa vez, chegava na Fazenda Floresta um potro altivo sem nunca ter visto um cabresto na vida. Ele olhou e disse: “esse não se capa e não se vende”. Era Único EDU, que viria a se tornar mais tarde bicampeão nacional de marcha. Rogério chega a arrepiar quando se lembra dessa história… Como ele poderia ter visto lá na frente?
José Frausino Aguiar Junqueira - Frau, seu primo, lembra: “O Ti Paulo valorizava o que nós valorizamos hoje dentro da Raça, que é a marcha com equilíbrio e dinâmica, se ele estivesse aqui, não estaria feliz com a “moda” que está vigente nos julgamentos”. Um cavalo sem amplitude… O que acharia disso Paulo César? Sem o reitor da marcha, pairam, então, algumas perguntas pelo ar...
Parte II
Filho de Bentinho e Carmita Junqueira de Andrade, Paulo César tinha muito amor e cuidado com os pais. Casou-se com Márcia Paiva Procópio Junqueira e teve três filhos: Ana Paula, José Bento Neto e Fabíola. Eles foram criados na Fazenda Cascatinha (ou Ponte Funda), em Caxambu. Na tríplice caçada, amigos e fazenda que regia sua vida, encontrava tempo para pequenos mimos. Após a costumeira prosa na casa de sua irmã “Cecélia”, ele levava para a caçula Bil um chocolate. Encontrava a filha dormindo. Deixava, então, em cima do criado e lhe dava um beijo de boa noite. “Era tão gostoso aquele beijo e aquele chocolate”, relembra Bil.
Nos momentos marcantes da vida da caçula, Paulo César chorou de emoção: formatura, casamento e nascimento de sua filha. Tinha um coração enorme e um zelo pelas crianças e pelas netas, Maria e Anne. Também gostava muito da Ana Vitória, a caçula espoleta do Julinho.
Nas caçadas, ele falava para o Rogério: “Olha o Neto! Olha o menino”. E Rogério ficava bravo! “Vê se pode eu pagiar o Neto?!” Eles eram quase da mesma idade... Paulo César deixa também essa marca, “o coração dele não tinha preço”, diz Rogério.
Engraçado, dono de uma alegria enorme em viver! Quem conviveu sabe, ele aproveitou, passou por aqui vivendo intensamente. Um cavaleiro sem igual, uma pessoa espontânea! “Ele saía com cada uma que a gente não sabia o que acontecia, era na hora!!”, ri Mariozinho. São histórias que dariam certamente um livro de contos…
Passar pelos campos do Angaí, tirar um carrapato de seu cavalo de origem Laglória e soltar uma: “Ah, vou jogar aqui mesmo. Laglória com Angaí dá certinho”. Só poderia ser história de Paulo César… Espirituoso e presença estimada pelos amigos. “Ele era comédia mesmo, divertia a turma”, relembra Neto.
Sempre que ele gostava muito de um cavalo, Bil lhe perguntava qual era a pelagem e ele sempre respondia, “Alazão, Bil, você tem alguma dúvida!!”
E assim viveu Paulo César, inseparável do seu cavalo de sela 66, juiz de respeito e referência de conhecimento em Mangalarga Marchador. Ele deu continuidade ao trabalho incansável de seleção de seu pai Bentinho e deixou nos Lobos um legado de marcha e qualidade genética. Hoje, Lobinho Lobos é um dos reprodutores de maior influência no Mangalarga Marchador, entre incontáveis animais de destaque.
Alguns dos leitores estão esperando a história da troca das dentaduras entre ele e seu irmão Aníbal, o “Barra”. Se avistarem Julinho e Mariozinho em alguma Exposição, peçam que contem esse caso. A memória dos que partem continua viva nas palavras daqueles que tanto lhes amaram. A vida é assim… De repente, é Paulo César vivo ainda no meio de nós. “As pessoas não morrem, ficam encantadas”[if !supportFootnotes][3][endif]. Certamente, ele se encantou. Nos Lobos, na Gameleira, no Parque de Exposições de Caxambu, onde houver amizade, cavalos e boemia, haverá Paulo César Junqueira e sua memória, e os Lobos hão de uivar sempre!
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[if !supportFootnotes][1][endif] Prática secular da família Junqueira no sul de Minas e hoje controlada pela guarda florestal.
[if !supportFootnotes][2][endif] Fuzileiro Lobos
[if !supportFootnotes][3][endif] Guimarães Rosa
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