A linhagem Goiabal: Raízes, influência e resgate
- Revista Sem Fronteiras Marchador
- 3 de out. de 2022
- 5 min de leitura
Por Ana Carolina Meirelles
Com base em estudos de Ricardo Casiuch e Raphael Junqueira Ferraz
Parte 1 - Troncos pilares: Boa Vista e Narciso
Pouco se havia falado na raça sobre a resistência de linhagens que beberam de maneira direta dos primeiros Mangalarga Marchadores que se tem notícia: linhagens que tem como tronco duas fazendas consideradas pela Fundação Barão de Alfenas como formadoras do conjunto de pilares da raça: Boa Vista e Narciso. Duas fazendas geograficamente próximas e com estrutura arquitetônica similar, desmembradas da antiga Fazenda Campo Alegre, do patriarca da família Junqueira, João Francisco Junqueira.
Foto: Fazenda Goiabal
Joaquim Tibúrcio Junqueira, filho herdeiro do Barão de Alfenas, nasceu em 1828 na Fazenda Campo Alegre e “faleceu em 1873 na bela, e imponente, Fazenda Boa Vista”, segundo os arquivos da família. No inventário, ele deixou bens como a própria Fazenda Boa Vista, parte da Fazenda Campo Alegre (casa do “Barão de Alfenas”), 88 escravos e alguns cavalos e éguas, entre os quais citam - se:
Diamante
Castanho
Baio
Prata
Chita Velho
Tetéia
Completo
Algumas éguas com crias
Foto: Dalmo Junqueira Ferraz
Já na Fazenda Narciso, Antônio Gabriel Junqueira (1817 - 1897), filho herdeiro do Barão de Alfenas, foi o criador de uma das costelas da raça: o Abismo (ou Rosilho do Narciso). E Francisco (1915 - 1901), na Cafundó, criador do célebre Telegrama Velho. A partir desses animais é que se vê a formação da linhagem do Goiabal.
Sobre a capitarização da tropa na região da zona da mata e no sul de Minas:
A criação de cavalos segue uma linha do tempo paralela à história do seu criador. Assim, podemos dizer que a genética pura dos primeiros animais da raça em formação, acompanhou casamentos e mudanças, sendo que, enlaces interparentais acabaram interferindo também na sua afirmação enquanto uma linhagem que se expandiu para fazendas da região de Cristina e Carmo de Minas (MG), principalmente, como,
Sesmaria
Capinzal
Criminosos
Condado
Outras
Todos os proprietários dessas fazendas tinham a mesma origem: a Fazenda Boa Vista.O começo dessa história também contemplar a região de Zona da Mata, já que uma parte da família de Antônio vendeu a certa altura a Fazenda Narciso, em Cruzília, e foi para a Fazenda Nova Floresta, em Pirapetinga.
Parte 2 - Cel Silvestre
Advindo da fazenda Sesmaria, na região de Cristina, Cel. Silvestre de Azevedo Junqueira Ferraz é um importante personagem que, guiado pelas tradições familiares, deu sequência e endossou a evolução da tropa castiça na Fazenda Goiabal, entre Itajubá e Maria da Fé. Silvestre e sua esposa Anna Junqueira Ferraz, “Dona Niquinha”, eram os dois descendentes do Barão de Alfenas, Gabriel Francisco Junqueira; Silvestre pelo Joaquim Tibúrcio e Anna pelo Antônio, e herdaram animais vindos da Boa Vista e Narciso, bem como usaram para a constituição do plantel, outros animais que vieram do mesmo tronco.
Foto: Favacho Baio
Em 1926, época que marca o começo da criação na Fazenda Goiabal, o garanhão - chefe do plantel se chamava “Campo Alegre do Goiabal” e tinha ascendência direta nas tropas do Narciso e Boa Vista. Assim, pode - se afirmar que a origem zootécnica do Goiabal advém em linha reta dessas duas fazendas pilares da raça. O plantel Goiabal descendia também do cavalo Cuéra (Cana Verde), da Fazenda Capinzal, que esteve por um tempo na região de Carmo de Minas. Cuéra veio a ser pai de um dos troncos pilares da raça em todos os tempos: Angahy Caxias I. Duas aquisições em 1945 endossaram e deram corpo à tropa do Goiabal, sendo eles:
Sumaré: Reservado Campeão Exposição São Lourenço 1945 e Campeão Primeira Exposição de Itajubá em 1947.
Favacho Baio Velho: Campeão Exposição São Lourenço 1945 e Reservado Campeão na Exposição Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador, antes mesmo da fundação da ABCCMM.
Curiosidade: Naquela época 1° Prêmio se referia à campeão e 2º Prêmio à Reservado Campeão.
Favacho Baio tem como produção de destaque Trevo da Gironda (por Favacho Cambraia). Mas para os antigos, dos dois cavalos adquiridos naquela exposição em São Lourenço, a melhor produção foi a do tordilho Sumaré. Destaque na sua produção para dois irmãos próprios (por Rosana do Goiabal):
Zanho do Goiabal
Ciclone do Goiabal:
Zanho e Ciclone deixaram ampla capilaridade no plantel Goiabal, aí performando cruzamentos de tios com sobrinhas, ferramentas zootécnicas que selecionadores utilizam de tempos em tempos para dar saltos de qualidade nos rebanhos; e em decorrência disto, o Goiabal consolidou em pouco tempo características marcantes como: - Boa marcha, rusticidade e resistência, com alta concentração de sangue, formando uma linhagem que serviu de base para vários criatórios da região, como: Cornelinho, R.B., Fumaça Preta, da Fé, Fortes, Turró, F.R., entre outras.
A marca DJ e DJF
Dos filhos do Cel Silvestre foi Dalmo Junqueira Ferraz quem preservou as origens da tropa Goiabal por mais tempo. Ele reservou um lote de cinco éguas rústicas, marchadeiras e, em sua maioria, tordilhas pedreses. Uma delas, foi a Lua do Goiabal, matriz de muita importância afetiva para a família e a linhagem, que, com o garanhão Pretinho (Ciclone II x Cristina) gerou a Mandala do Goiabal DJF, égua registrada em Livro aberto, e principal matriz da atual linhagem Goiabal.
Foto: Ciclone e Alkindar Ferraz
Parte 3 - O resgate
Raphael S. Junqueira Ferraz B. Souza, neto de Dalmo e Maria Lúcia, associou-se à ABCCMM com o sufixo “DJF do Goiabal” em 2009 e deu começo a um resgate em profundo trabalho de reconstituição genética, focando em éguas de sangue, notadamente as de origem no Goiabal; mas também com alguma abertura genética para as linhagens que ajudaram a formar a raça e a tropa Goiabal, como Favacho, Bela Cruz e JB. Desde 2019 o sufixo usado (com uma pequena variação) é “do Goiabal DJF”. Raphael acredita que assim faz uma referência mais destacada à tropa Goiabal com as iniciais do nome de Dalmo. Dentre as matrizes com atual influência na tropa ‘Goiabal DJF’, citam-se algumas e suas descendentes:
Mandala do Goiabal DJF – égua consaguínea pura Goiabal (Pretinho - base Goiabal x Cristina);.
Gina Fumaça Preta – filha do Ciclone II do Goiabal;
Jurema do Turró – criação da Fazenda Goiabal, filha do Ciclone do Goiabal;
Rosana Nova do Goiabal – registrada como Fragata do Cornelinho, e filha do Ciclone do Goiabal;
Saramandaia Fumaça Preta – neta da Preta do Goiabal, uma neta de Favacho Baio;
Serena Fumaça Preta – neta da Baia Velha do Goiabal, uma filha do Favacho Baio;
Serena R.B. – filha de égua do Goiabal, comprada pelo Sr. “Cornelinho”, uma filha de Favacho Baio.
Foto: Raphael e Lua do Goiabal
Quatro matrizes são os pilares do resgate da tropa ‘Goiabal DJF’. São elas e seus descendentes:
Mandala do Goiabal DJF - Mandala tem duas produções importantes na linhagem: Cristina e Diana, matrizes de confiança do Haras.
Aquira DJF do Goiabal (Jupiá JF Jocemar x Gina Fumaça Preta). Gina é uma filha de Ciclone II do Goiabal.
Baia do Goiabal DJF Baia foi registrada no Livro Aberto. Neta de uma das principais éguas de Décio Junqueira Ferraz (filho de Silvestre), a Raia do Goiabal.
Catarina DJF do Goiabal (Jupiá JF Jocemar x Vela Fumaça Preta). Vela é uma bisneta de Rosana Nova do Goiabal.
Foto: Sumaré e Dalmo Junqueira Ferraz
Nota: Hoje, a Fazenda Boa Vista segue com o plantel de tradição Beta e em evolução com o sufixo Morro das Pedras. Já no Narciso, segue - se a linhagem que leva o nome da Fazenda, formado o seu plantel mais moderno a partir de éguas - base vindas da Fazenda Chalet, na década de 1962, animais das linhagens Bela Cruz e Traituba.
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