ALIMENTE BEM O SEU CAVALO E GARANTA A ELE SAÚDE E BEM-ESTAR!
- Revista Sem Fronteiras Marchador
- 14 de jul. de 2020
- 6 min de leitura

A nutrição realizada de forma correta e equilibrada faz toda a diferença quando se pensa em saúde, crescimento adequado e bom desempenho atlético dos cavalos. Além disso, o custo com a alimentação é um dos mais altos e impactantes em qualquer sistema de criação de equinos. Apesar de toda essa importância, na maioria dos criatórios do cavalo Mangalarga Marchador, muitos erros ainda são cometidos no manejo alimentar, ocasionando prejuízos técnicos e financeiros ao criador. Doenças do sistema digestivo são a maior causa mortis de equinos no mundo e várias delas são causadas por falhas na alimentação.
Para alimentar um equino de maneira adequada, basta seguir rigorosamente todas as regras do “manual de instruções” do sistema digestivo do cavalo, o qual possui algumas particularidades, com adaptações anatômicas e fisiológicas bastante particulares.
HÁBITOS E EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS
Os equinos são classificados, quanto ao hábito alimentar, como animais HERBÍVOROS MONOGÁSTRICOS NÃO RUMINANTES. O cavalo é essencialmente um PASTEJADOR DE FORRAGEIRAS. Por isso, é essencial ressaltar que o alimento mais importante na dieta desses animais é o CAPIM. A disponibilidade de forrageiras é imprescindível no planejamento alimentar de um sistema de criação. Estatísticas mostram que hoje, no Brasil, gasta-se mais com suplementos, aditivos ou medicamentos do que com alimentos, o que é um dado preocupante. O fornecimento de forrageiras de boa qualidade não pode NUNCA ser menosprezado!
Desde o nascimento, é essencial que o cavalo se alimente várias vezes ao dia, ingerindo pequenas quantidades de alimento em cada refeição. Esses animais passam até 18 horas por dia mastigando. O pastoreio contínuo por longo período de tempo sempre irá promover o prazer e, consequentemente, o bem-estar do cavalo.
Cada categoria (garanhões, éguas gestantes ou lactentes, potros e animais em treinamento) possui sua exigência nutricional. A necessidade de cada nutriente essencial varia de acordo com o estágio de vida e situação fisiológica de cada indivíduo. Então, é essencial que a dieta seja sempre balanceada e equilibrada, sendo capaz de suprir e atender todas essas necessidades.
FORRAGENS
Capim de qualidade é a base para uma alimentação saudável do cavalo, devendo estar disponível 24 horas por dia. Para a produção de forragens é essencial a aplicação de técnicas de preparo do solo, plantio, adubação e controle de pragas e invasoras. A escolha da forrageira a ser cultivada deve ser sempre adequada às condições de solo, topografia e clima da região e a área a ser plantada deve estar ajustada ao tamanho do rebanho. Boas práticas de manejo de pastagens e capineiras vão garantir o oferecimento e a disponibilidade de forragens de boa qualidade.
Os equinos são bastante seletivos e têm suas preferências alimentares. O cavalo não come qualquer capim. Talvez, por uma simples questão de palatabilidade e/ou estágio de vida da planta. Características como valor nutritivo, sabor, fisiologia e tipo de crescimento, potencial de produção, relação folha/talo e concentração de oxalato devem sempre ser levadas em consideração na escolha dos capins com os quais irá trabalhar.
Um dos desafios é a produção de forrageiras durante o período de seca, sendo, portanto, fundamental garantir a disponibilidade de alimento volumoso para esse período de escassez. Então, um bom planejamento de produção para estocagem e armazenamento deve ser adotado. Métodos como fenação e ensilagem são comumente utilizados para esse fim.
ALIMENTOS CONCENTRADOS
Os alimentos concentrados são constituídos de grãos e sub-produtos, os quais são fontes de amido e outros carboidratos, proteínas e seus aminoácidos essenciais, lipídeos, além de alguns minerais e vitaminas. São popularmente conhecidos como “rações”.
Os concentrados são acrescentados à dieta de equinos que tenham a exigência nutricional aumentada por treinamento e/ou estado fisiológico. Cavalos em treinamento, garanhões utilizados na reprodução, éguas no terço final de gestação, éguas paridas até o terceiro mês de lactação e potros entre 03 e 12 meses de idade são as categorias que normalmente necessitam ser suplementadas. Nesses casos, a necessidade de complementação da dieta se dá porque a demanda diária de nutrientes não é suprida somente pelas forrageiras. Então, os concentrados devem ser utilizados como complemento da dieta e nunca como principal alimento.
A ingestão desses alimentos de forma excessiva é um dos principais fatores que causam as temidas cólicas. Dependendo da quantidade necessária de ingestão diária, o oferecimento deve ser fracionado em mais de uma refeição. Nunca deve-se fornecer ao cavalo mais que 500g de ração para cada 100 kg de peso vivo por refeição. Outro ponto a ser considerado é que deve-se respeitar um intervalo mínimo de duas horas entre as administrações de alimento concentrado. Recomenda-se também que os animais suplementados devam trabalhar somente uma hora depois da ingestão. A ração somente deve ser administrada de 1-2 horas após o término do exercício, sendo necessário que o animal reponha sua perda hídrica antes de recebê-la.
ÁGUA
A água é considerada o constituinte da dieta mais importante para a manutenção da vida. Atua em todas as reações do metabolismo. O cavalo perde muita água através do suor, urina e fezes, respiração e demais reações do organismo. A reposição de todos esses líquidos se dá através da ingestão de água. Um cavalo adulto ingere diariamente de 20 a 100L de água. O maior ou menor consumo está relacionado a temperatura ambiente e da água, umidade relativa do ar, idade e status fisiológico do animal, tipo e composição da dieta, intensidade e tempo de exercício e, logicamente, QUALIDADE DA ÁGUA. Água de boa qualidade deve estar sempre disponível aos animais: A água boa para o cavalo é aquela que até a gente tem coragem de beber!
MINERAIS E VITAMINAS
Os macro e microminerais são elementos orgânicos também de grande importância na manutenção da saúde dos equinos, devido a sua interferência no metabolismo energético e proteico. Devem também ser fornecidos de forma equilibrada e balanceada, sempre com o objetivo de suprir as necessidades dietéticas. Categorias mais exigentes como cavalos atletas, potros e éguas lactentes e potros desmamados são mais sensíveis às carências minerais. Atenção especial deve ser dada às exigências de Ca, P, Na, Cl, K, Se, Cu e Zn. A adição indiscriminada de um ou mais minerais é mais perigosa que benéfica. Dieteticamente, deve-se considerar os minerais como um grupo e não individualmente. A suplementação mineral deve acontecer de forma contínua, devido a grande variação de minerais contidos nas forrageiras. Não pode faltar sal mineral no cocho! Tem que suplementar!
Vitaminas, as quais são divididas em hidro e lipossolúveis, são substâncias orgânicas exigidas em quantidades vestigiais, que também promovem e regulam várias funções corporais. A ausência desses compostos pode levar a distúrbios graves na saúde dos animais. Nos equinos, a maioria das vitaminas são sintetizadas pelo organismo, com exceção das lipossólúveis A e E. Entretanto, os alimentos comumente utilizados na nutrição equina são boas fontes dessas vitaminas, principalmente as forrageiras de boa qualidade. A conservação e estocagem das vitaminas no corpo dessa espécie são garantidas por eficientes mecanismos de reciclagem. Animais em treinamento, em pleno crescimento ou em recuperação de alguma doença podem requerer alguma suplementação de vitaminas do complexo B. Em regiões que apresentam longos períodos de seca, a atividade de vitaminas A e E nas forragens fica muito diminuída ou até mesmo ausente, sendo necessária a suplementação a partir do segundo mês de escassez de forragens verdes.
USO DE ÓLEO VEGETAL
Os equinos são grandes metabolizadores de gorduras, devido a ausência de vesícula biliar na espécie. A deposição de bile no duodeno acontece de forma contínua, o que dá ao cavalo uma incrível capacidade de utilização dos lipídeos como fonte de energia rapidamente metabolizável, já que os mesmos fornecem 2,25 vezes mais energia que os carboidratos.
O cavalo de marcha executa exercícios de intensidade moderada e de média a longa duração. Nesses casos, o uso de óleo vegetal na dieta desses animais complementa de forma bastante eficaz a necessidade de energia. Mas, deve-se tomar o cuidado de nunca oferecer óleo no dia da competição, por causa de sua interferência negativa na absorção de eletrólitos no intestino, o que será essencial durante a prova.
Os óleos são também fontes dos ácidos graxos ômega 3 e ômega 6, os quais são nutricionalmente e metabolicamente essenciais.
ADITIVOS
Os aditivos alimentares não são acrescentados a uma dieta com o intuito de proporcionar nutrientes. São acrescentados para beneficiar o animal de outras maneiras, como aumentar a estabilidade, a palatabilidade e a utilização do alimento, melhorando a resposta do animal a ele. Ocasionalmente, como benefício secundário, podem proporcionar um nutriente.
Poucos aditivos tiveram a sua eficácia realmente comprovada na espécie equina. São eles: probióticos, prebióticos e simbióticos, Cromo, minerais quelados (Fe, Co, Cu e ZN) e carnitina. Alguns aditivos destinados a outras espécies são tóxicos para os equinos, como a monensina ou os antibióticos ionóforos .
Algumas ações de manejo podem auxiliar na otimização da qualidade do programa alimentar do haras, como divisão da propriedade em piquetes, divisão e distribuição do plantel em categorias de acordo com idade, sexo e estado fisiológico, utilização de instalações adequadas e equipe capacitada e bem treinada.
Nutrir bem um cavalo não é nenhuma missão impossível. Basta atendê-lo quanto a suas necessidades. Lembrem-se que equinos mantidos em liberdade, não isolados do grupo, tratados com carinho e respeito e com constante acesso a forrageiras de boa qualidade terão sempre uma excelente qualidade de vida. Então, segredo de tudo está no fato de sempre TRATAR OS CAVALOS SIMPLESMENTE COMO CAVALOS!
Tiago de Resende Garcia
Médico Veterinário
Mestre e Doutor em Nutrição Animal pela UFMG
Diretor Técnico da i9 Agro
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